5 aprendizados da Paris Roubaix 2024

5 aprendizados da Paris Roubaix 2024

 

No último domingo, 07 de abril, Mathieu Van der Poel venceu a Paris Roubaix pela segunda vez, vestindo a camisa de campeão mundial e abrindo um gap histórico de 3 minutos para o segundo colocado.

Pra quem ainda não entendeu a importância dessa corrida e por quê ela é diferente das demais, é só ler aqui a nossa notícia explicando tudo sobre ela.

É uma corrida quase sempre decidida no sprint, mas dessa vez, Van der Poel preferiu fazer o trabalho com antecedência.

No feminino, também vestindo a camisa de Campeã mundial, Lotte Kopecky deu um show de postura, posicionamento e autonomia. Vamos aos aprendizados:

 

1 – É mentira que a camisa de arco íris dá azar

Já é meio clichê que os campeões mundiais de ciclismo de estrada não performem bem no ano depois de vencerem o campeonato mundial. Muitas vezes parece ser má sorte. Pode ser uma pressão psicológica que esses caras recebem, talvez.

Lembram-se de quando Julian Alaphilippe estreava a camisa de campeão mundial e, prestes a vencer a Liège-Bastogne-Liège, celebrou antes da hora e entregou a vitória de bandeja pro Roglic?

E na Strade Bianchi, também com a camisa de campeão Mundial, quando tomou um tombasso e saiu voando?

Não foi só ele, mas estes são sem dúvidas os melhores exemplos de má sorte com a Rainbow Jersey.

Neste ano, as camisas de campeão mundial trouxeram bastante sorte e mostraram que é possível sim manter a boa performance - física e mental - por mais de um ano consecutivo.

 

2 – Ser o favorito exige uma estratégia diferente

Quando você é o favorito todo mundo fica te marcando. Todas as vezes que rolava um ataque, os atletas olhavam pro Van der Poel esperando ele fazer alguma coisa. Todos se recusavam a fazer algum trabalho em conjunto pelo pelotão, quando nele tem um nome tão grande se beneficiando de tal trabalho.

Assim, a estratégia do favorito foi a de utilizar o apoio de sua equipe enquanto possível, e depois disso, trabalhar sozinho.

Este é o motivo que justifica um ataque solo de 60 kms, que beira a insanidade em condições normais.

 

3 – O vento é pior do que qualquer subida

Nos trechos de asfalto, que normalmente pensamos ser os mais fáceis da Paris Roubaix, fica um pouco difícil identificar se existe a presença de vento ou não. Em alguns momentos, é possível ver que o pelotão não anda como um grande grupo de ciclistas aglomerados, mas sempre na formação tipo "single line", ou seja, um linha de ciclistas, um atrás do outro.

Isso quer dizer que o vento está muito forte e que é ele quem está determinando a velocidade e o formato do pelotão, não os atletas.

É aí que o pelotão começa a picar e se subdividir, por isso a corrida torna-se muito mais difícil para quem não está conseguindo se posicionar la na frente, segurando o ritmo frenético. Sobrou de roda por um segundo? Ja era, nunca mais volta para o grupo. Não com esse vento

 

4 – Conheça a sua bike e saiba lidar com problemas

A imagem de Lotte Kopecky apertando os parafusos do seu guidão em movimento é uma aula de correção de imprevistos. A ciclista seguiu o rito correto, na ordem correta:

- Identificar o problema

- Pedalar com os parafusos soltos até um local seguro para corrigir

- Entrar em contato com a sua equipe e comunicar qual ferramenta ela precisava (nessa hora a equipe também precisa estar esperta

- Habilidades mecânicas em alta velocidade, mantendo a pilotagem agressiva

- Fazer todo o procedimento economizando energia para depois conseguir voltar para o pelotão. De nada adiantaria o procedimento ágil se ela perdesse a frente da corrida.

 

5 – O jogo de interesses é muito mais dinâmico e mutável em uma clássica

Estamos muito acostumados a assistir o Tour de France e o Giro d'Itália, onde a corrida tem 21 dias de duração e várias camisas de campeão são distribuídas. Isso faz com que cada atleta tenha interesse em um objetivo diferente, assim como ele possa diluir a sua estratégia ao longo dos 21 dias, podendo agir com mais calma e paciência.

Apesar disso ser muito legal, as Clássicas (corridas de apenas um dia) não possuem essa dinâmica. Ali é um troféu só, valendo só para a chegada daquele dia, sem pontos intermediários e nem meta volante. Acaba ali.

Sendo assim, toda a estratégia de economizar energia e atacar para ser o campeão é igual para todas as equipes, condensando-se em apenas um dia.

Na Paris Roubaix, o campeão Van der Poel só tinha um objetivo, mas segmentou a sua estratégia ao longo da prova, da seguinte forma:

- Primeiros 100 km: Fez o possível para não colocar a cara no vento em nenhum momento. Delegou à sua equipe fazer o trabalho sujo e inflacionar o ritmo do pelotão, assim como reconectar alguma possível fuga.

- 100 a 140 km: Com o pelotão picado, foi obrigado a aparecer mais à frente e fazer o trabalho sujo, mas evitou buscar fugas e atacar grupos

- 140 a 200 km: Atacou e seguiu solo, sozinho até o final. Poderia ter combinado uma fuga com alguns atletas, mas não seria uma boa ideia pois ninguém iria ajudar o favorito.

No caso dos demais atletas, a estratégia deles era a de buscar Van der Poel. Eles fizeram isso até quando faltava 40 kms para a chegada, mas quando perceberam que isso seria impossível, mesmo estando em um grupo maior, mudaram a estratégia: passaram a economizar energia para o sprint. 

Em outras palavras, largaram o objetivo de alcançar VDP e passaram a se preocupar em quem ficaria com o troféu de segundo lugar.